quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

POUCAS & BOAS - Eduardo Kruschewsky

PRECISO VOLTAR A ACREDITAR EM NOEL...

Fica cada vez mais difícil recordar o passado. A tecnologia, com seus brinquedos reluzentes, seus robôs, mp3, filmadoras em dvd, internet, etc., jogou por terra a roupa vermelha, a barba branca e o trenó do “bom velhinho”. Onde estão os carrinhos de fricção, as bolas reluzentes que, no dia santo de natal, pulavam nos quintais? E as bonecas da Estrela?

Até acontecer a minha descrença, que chegou com o passar dos anos, como era bom e gostoso esperar por Papai Noel! Era maravilhoso mandar a cartinha com frases pueris, escrita com letra arredondada e no capricho para causar boa impressão: “— Papai Noel, fui bom menino, passei de ano e queria de presente uma coleção de soldadinhos de chumbo e um Forte Apache” e aguardar a noite mágica que nem sempre era “a noite mágica”, porque o presente pretendido não vinha. E, no dia 24 de dezembro, era uma prova de fogo: precisávamos fazer um esforço enorme para ficarmos acordados e participar da ceia familiar, comendo aquele indescritível queijo cuia, centro da atração das crianças da família! E depois ir à missa do Galo que acontecia à meia noite em ponto, um desafio para nós, dominar o sono vindo, mal o dia se ia. Nos bons tempos de criança, ficávamos despertos até, no máximo, quando os velhos rádios de válvulas eram desligados após o “Repórter Esso”, transmitido na bela voz de Heron Domingues...

Mas... por mais que nos esforçássemos, o Papai Noel era mais esperto do que qualquer um de nós. Parecia que o danado ficava à espreita esperando que o sono nos vencesse para, só então, colocar os nossos presentes ao pé da cama ou da sempre presente árvore na sala. Afinal, nenhuma criança poderia surpreender o “barrigudinho” no seu mister de presentear. Ele era avô de crianças que papai e mamãe podiam mandar a cartinha e — diziam eles! — junto com ela um dinheirinho para que o bom velhinho não se apertasse e tivesse condições de atender, sempre que possível, ao pé da letra, os pedidos do exército de ansiosos inocentes...

Tenho uma filha adolescente e percebo que ela nunca viu com olhos de fantasia a mágica figura que, sem chaminés, consegue penetrar nas casas e colocar ali os cobiçados embrulhos, além de ser unipresente e atender numa só noite todas as crianças cujos pais tenham condições financeiras.

Mas, gente, foi tão bom crer em Papai Noel que eu resolvi querer acreditar de novo. E sabem de uma? Vou fazer uma cartinha pedindo uma porção de presentes, subscrever o envelope com o endereço do Polo Norte e levá-la aos Correios. Já tenho, até, ela pronta:

“Meu bom Papai Noel,

Antes de mais nada, sem perder o respeito, quero ser bem próximo, por isso vou tratá-lo de você.

Quem lhe escreve é um velho poeta, um homem que um dia foi criança e que já vê próximo o ocaso da vida, precisando recuperar a necessidade de acreditar no “retorno aos trilhos” da humanidade. Eu sei que você vai dar preferência à leitura dos pedidos da meninada – afinal, criança é criança! - mas não custa nada pedir, tendo esperança de que você possa ler esta cartinha um dia e, compreensivo como é, dê um jeitinho: peça ao Bom Pai para que ele diminua a violência, haja justiça social, acabe com o desamor, enfim esta coisa toda que desagrega famílias, afasta amigos e torna os homens tão racionais em seu egoísmo e tão irracionais no respeito ao próximo...

Que Ele abra as cabeças das pessoas para o entendimento de que filhos gerados de maneira irresponsável têm pouca oportunidade de “ser gente”, ser cidadão. Além do mais, as doenças sexualmente transmissíveis estão matando indiscriminadamente a pobres e ricos...

Meu velho Noel, serei mais direto: está difícil ser atendido em pedidos como paz, amor, compreensão, pois a humanidade cresceu muito e cada vez mais se afasta de Deus. Mas, se isto demorar a acontecer, eu tenho um outro pedido mais antigo que este e não quero perder a esperança de receber o que nunca tive, pedido em vários natais, sem sucesso:

— Por favor, meu bom velhinho, no momento em que volto a acreditar em você, faça o possível para não esquecer, de novo, da minha Caloi!”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário